SALA DE AULA

Olá, leitores(as)!!

Estive um pouco ausente, fico feliz de estar de volta e poder compartilhar mais uma experiência de sala de aula.

Ler não é somente decodificar o texto, é ir além, é compreender aquilo que muitas vezes o texto não diz, mas nos leva a refletir e a enxergar, para que esse tipo de interpretação seja alcançada, devemos ser críticos para ler nas entrelinhas, fazer relações mentais com outros textos, com nossas vivências, com nossas concepções ou até com outras concepções. O aluno deve conseguir alcançar esse patamar de compreensão, porém isso não deve e não será feito somente através do estudo da língua, essas concepções saõ trazidas por todas as disciplinas reunidas, uma complementa a outra, uma abre horizontes para a outra.
Esse universo de interpretações só se completa com as noções que se tem de mundo, de vida, a interação entre autor e leitor é imprescindível para a compreensão do texto, como diz a Rojo em seu texto Letramento e capacidade de leitura para a cidadania "o texto deixava pistas da intenção e dos significados do autor gerando novos discursos." O caminho interpretativo, por essa razão, não é não pode ser linear, ele tem "links" que são trazidos à memória para complementação e completude do que está sendo dito.

Eu trabalhei com meus alunos o poema "O bicho" de Manuel Bandeira.
Os alunos fizeram a transposição dessa linguagem poética para HQ, foi interessante porque eles conseguiram interpretar o poema com imagens, mostrando a desvalorização do ser humano em relação aos outros seres.
Também fizemos a relação com o que está acontecendo em todo o país, as manifestações pacíficas e  os aproveitadores que fazem baderna e causam problemas.
Eles entenderam a proximidade no fato de que os valores estão invertidos e que as pessoas estão cansadas de serem desvalorizadas como cidadãs e até como seres humanos. Pagar um show de um artista famoso é mais importante para uma cidade, por exemplo, do que investir na saúde, contratar médicos e profissionais com salários dignos, colocar à disposição aparelhos para exames modernos, enfim, proporcionar um serviço de qualidade. Isso é só para exemplificar.

Os alunos trouxeram comentários pertinentes e críticos.

O BICHO

Vi ontem um bicho
Na imundice do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa;
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.

Manuel Bandeira. Rio, 27 de dezembro de 1947


Olá, queridos(as) leitores(as)!!

Segue abaixo a discussão feita no encontro presencial por meu grupo sobre o texto do Dolz e do Schneuwly sobre Gêneros Textuais:

GÊNEROS E PROGRESSÃO EM EXPRESSÃO ORAL E ESCRITA – ELEMENTOS PARA REFLEXÕES SOBRE UMA EXPERIÊNCIA SUÍÇA (FRANCÓFONA) DOLZ Joaquim & SCHNEUWLY Bernard (1996)
 DISCUSSÃO EM GRUPO: “DIMENSÃO COMUNICATIVA DA LINGUAGEM”

A intenção é trazer os gêneros para a contextualização de sala de aula e para instrumentalizar o discente a ampliar e a aplicar a expressão oral e escrita.
Exemplo: quando propomos a elaboração de jornal, não podemos trazer um jornal e simplesmente pedir aos alunos para que façam uma publicação, como se a prática fosse uma mera reprodução. Deve-se mostrar o que é a notícia, a manchete, a organização dos cadernos e explicar a diagramação. Na produção dos textos, levar a refletir sobre os fatos ocorridos na escola. O aluno deve reconhecer para qual público-alvo ele irá escrever e propor o estudo dos gêneros organizados em sequências didáticas e relatando sempre as experiências propostas, por Freinet, que conforme os autores, ‘abre as portas’ à dimensão comunicativa da linguagem bem diferente da ‘pedagogia do coroamento’, que tratava o ensino da língua materna, como a representação perfeita da ‘arte de escrever’.
Podemos citar um outro exemplo de contextualização: Um anúncio publicitário em que aparecia uma balança e os seguintes dizeres: “ABAIXO A DITADURA”, seria difícil para um educando que desconhece a realidade, o contexto da ditadura militar, pois o mesmo não viveu a realidade desta época. O professor deve ampliar esse conhecimento para que o aluno entenda o gênero proposto, nesse caso, um anúncio.

Muitas vezes, é preciso recorrermos a outros contextos, que inclusive, extrapolem o estudo do gênero que estamos abordando para aprofundar o conhecimento e o entendimento dos textos.


Olá, queridos(as) leitores(as)!!!

Quando trabalhei com 1° ano do Ensino Médio queria apresentar as cantigas de amor de um outro jeito e então selecionei dois textos: a música "Dona" do Roupa Nova, uma verdadeira cantiga de amor moderna porque mostra a subordinação do homem à mulher amada; e também o quadro "O beijo" de Gustav Klimt (segredinho: um dos meus pintores favoritos) e lancei a seguinte pergunta:

Se compararmos o quadro “O beijo” de Gustav Klimt com a música “Dona” do Grupo Roupa Nova vemos uma inversão de papéis, pois:
A)      no quadro o homem é um ser inatingível, ao contrário da música em que o ser inatingível é a mulher.
B)      no quadro o homem está de joelhos demonstrando superioridade em relação à mulher que, na música, aparece como dominadora.
C)      tanto no quadro quanto na música a mulher está em posição de domínio.
D)      na música, a mulher é a dominadora e no quadro ela aparece submissa, de joelhos.
E)       no quadro a mulher está submissa, de joelhos, enquanto que, na música, o homem é o dominador.


DONA
Dona desses traiçoeiros
Sonhos, sempre verdadeiros
Oh Dona desses animais
Dona dos seus ideais
Pelas ruas onde andas
Onde mandas todos nós
Somos sempre mensageiros
Esperando tua voz
Teus desejos, uma ordem
Nada é nunca, nunca é não
Por que tens essa certeza
Dentro do teu coração
Tã, tã, tã, batem na porta
Não precisa ver quem é
Pra sentir a impaciência
Do teu pulso de mulher
Um olhar me atira à cama
Um beijo me faz amar
Não levanto, não me escondo
Porque sei que és minha
Dona...
Dona desses traiçoeiros...
Sonhos sempre verdadeiros
Não há pedra em teu caminho
Não há ondas no teu mar
Não há vento ou tempestade
Que te impeçam de voar
Entre a cobra e o passarinho
Entre a pomba e o gavião
Ou teu ódio ou teu carinho
Nos carregam pela mão
É a moça da cantiga
A mulher da criação
Umas vezes nossa amiga
Outras nossa perdição
O poder que nos levanta
A força que nos faz cair
Qual de nós ainda não sabe
Que isso tudo te faz
Dona, Dona...


Link: http://www.vagalume.com.br/roupa-nova/dona.html#ixzz2WFo4a8af

O BEIJO

GUSTAV KLIMT


Claro que, depois disso, fizemos uma discussão a respeito de toda temática do amor subserviente do medievalismo e foi muito bacana!!! Os alunos entenderam perfeitamente o contexto trovadoresco e o amor vassalo, tal qual as relações sociais da época que também foram exploradas por mim e pela professora de História. 
Experiência que deu certo!!!


Olá, queridíssimos(as)!!!


A sala de aula é um constante desafio, sabemos que nossos alunos não têm muita disposição para leitura. Pensando nisso, nós, professores, estamos sempre buscando maneiras de trazê-los para o universo dos livros.

Tenho muitas experiências diárias acumuladas em 17 anos de sala de aula, mas passo a relatar abaixo uma delas: a mais recente, na semana passada li o conto "Venha ver o pôr-do-sol" de Lygia Fagundes Telles para alunos do 9° ano, eles pareciam em transe aguardando o tão inesperado final. Quando terminei a leitura, pediram para que eu lesse outro conto. É estimulante recebermos um retorno positivo do nosso trabalho. Logo após a leitura, abri a discussão para a sala, foram surpreendentes os comentários sobre a análise que eles fizeram.
Quando comentei da relação entre a imagem descrita pelo personagem Ricardo, da erva daninha crescendo, as raízes, as folhas por cima do nome no túmulo, cobrindo qualquer vestígio da morte, indicando exatamente a forma como aconteceria com ela trancafiada naquele mausoléu, comentei também sobre essa imagem transferida para o coração de Ricardo, em que a erva daninha foi brotando, as raízes da amargura, depois vieram as folhas e o amor ficou enterrado por uma grossa crosta de ódio, pelo fato dela tê-lo abandonado para ficar com um homem rico e menosprezá-lo, humilhá-lo, demonstrando isso em todas as suas atitudes. 
Depois dessa cena, eles trouxeram a nossa memória outras e lançaram vários comentários pertinentes para a discussão do conto; chegaram à conclusão que não podemos humilhar ninguém, devemos respeitar o sentimento das pessoas, porque tudo o que plantamos, colhemos.

Foi muito gratificante perceber que eles alcançaram profundidade interpretativa ao mostrarem os detalhes da personalidade de Raquel e de Ricardo através de seus comportamentos e de suas falas e conseguirem tirar uma lição da história.



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